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Apraxia na fala na infância

De acordo com a Dra Renee Hill, Apraxia de Fala na Infância (AFI) é um distúrbio motor da fala, que é um pouco mais complexo do que outros problemas de fala mais recorrentes. O distúrbio ocorre no processamento neurológico, quando o cérebro não envia ao sistema motor os comandos adequados para produção do som. Por exemplo, para dizer a palavra “bola”, uma pessoa pode entender o que a palavra significa e saber pronunciá-la mentalmente, mas quando tenta vocalizar “bola”, sai outra coisa, como “dá”. E a maioria das pessoas com apraxia, que não apresentem problemas cognitivos, vai ouvir essa diferença e tentar modificar a pronúncia na próxima vez, dizendo “du” e depois “bá”, e assim por diante. É uma dificuldade do cérebro em programar e sequenciar os sons motores da fala. Logo, não se trata de uma dificuldade muscular, do tônus, mas de uma falha de comunicação entre o cérebro e a boca no planejamento das palavras a serem articuladas.

O diagnóstico é feito por um fonoaudiólogo com experiência na AFI através de testes fonoaudiólogicos clínicos. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado melhor será o prognóstico.


Com que idade é possível este diagnóstico?

Muitas vezes, não é possível diagnosticar uma criança com menos de 2 anos de idade, porque, ainda não conseguirá compreender as instruções específicas para cumprir as tarefas essencias para o diagnóstico e também porque nesta idade, a criança está aprendendo os sons da fala. Entre 2 e 3 anos, podemos suspeitar do quadro e indicar alguns meses de terapia diagnóstica para a confirmação do diagnóstico. A intervenção precoce é muito importante para se obter resultados mais significativos.


A Associação Americana de Fonoaudiologia sugere a seguinte perspectiva para estudar as causas de Apraxia:

1. Idiopáticas (não há uma causa definida): ocorre uma falha no sistema linguístico-motor que resulta na dificuldade para produzir/articular sons e para combinar as sílabas para formar as palavras. 2. Perspectiva Sensório-Motora: ocorre uma alteração na percepção (processamento sensorial) e processamento motor e isso afeta o planejamento e automatização da sequencia motora de cada palavra produzida.

3. Perspectiva do Processamento Auditivo: crianças com apraxia tem os exames auditivos normais. Mas existe uma perspectiva que acredita que elas ouvem normalmente (audição periférica normal), mas o processamento (percepção/discriminação/memória auditiva) do que elas ouvem não ocorrem de forma adequada e isso afeta o encadeamento dos sons. * Causas Genéticas

Algumas alterações genéticas são hereditárias, ou seja, passam de pais para os filhos; porém outras podem ocorrer espontaneamente e sem termos como prevenir ou evitar, são “acidentes” genéticos que podem ocorrer no momento da concepção na gestação. Existem algumas condições genéticas que podem estar associadas ao quadro de Apraxia ou alguns sintomas da Apraxia. Suspeitas de causas genéticas devem ser sempre acompanhadas por um Médico Geneticista. Algumas condições genéticas que podem estar ter Apraxia associada:

1. Galactosemia: é um erro inato do metabolismo, é uma doença hereditária, no qual o corpo não consegue metabolizar (transformar) galactose em glicose. Ocorre em 1 a cada 60.000 partos. Crianças com galactosemia não toleram qualquer tipo de leite (humano ou animal) e devem ter cuidado com a ingestão de outros alimentos que contenham galactose. 2. Síndrome do X-Frágil: é a segunda causa mais frequente de Deficiência Intelectual, de origem genético-hereditária e pode ser acompanhada por um quadro de Apraxia. São crianças que apresentam déficit cognitivo, dificuldades comportamentais (hiperativos, com sinais austísticos) e tem características faciais típicas.

3. Síndrome de Down: frequentemente o quadro de Apraxia é subdiagnosticado em crianças com Síndrome de Down (“oh, ele tem a Síndrome e por isso é hipotônico e tem dificuldade em articular corretamente os sons). Atenção! Crianças com Síndrome de Down podem ter associado um quadro de Apraxia (os dois diagnósticos pode ocorrer) e nestes casos, é preciso um tratamento diferenciado.

4. Síndrome de Prader-Willi: ocorre um erro genético no cromossomo 15. Alguns sinais são: diminuição no reflexo de sucção, hipotonia muscular quando bebês, apetite insaciável (procura constante por comida), problemas comportamentais, estrabismo, déficit cognitivo, atraso no desenvolvimento motor e fala. Crianças com esta síndrome também podem apresentar Apraxia de fala.

Pode ocorrer de uma criança não ter nenhuma destas condições genéticas acima descritas, mas pode existir um componente genético na família que justifique a alteração no desenvolvimento da fala e da linguagem.

Outras causas: existem alguns estudos que têm encontrado algumas relações de doenças infecciosas que podem prejudicar circuitos cerebrais relacionados à área de programação motora da fala. As doenças citadas são: AIDS (HIV), Encefalite e Meningite.

Outras condições que também podem estar relacionadas à Apraxia: problemas no nascimento, prematuridade, ingestão de comidas processadas, com agrotóxicos, conservantes. Apesar de ter listado aqui as principais causas, vale destacar que estes são resultados de estudos teóricos e são fatores que podem ter contribuído para o aparecimento da Apraxia, mas até o momento, não se sabe qual a causa exata do problema.

**O mais importante: Muitos pesquisadores de várias partes do mundo investigam a causa da Apraxia e até o momento, não se chegou a um consenso. Não existe uma causa totalmente definida. Enquanto isso tente não se culpar. ao invés disso, concentre-se em ajudar e amar seu filho ou filha!


Principais sinais da AFI

  • As crianças com AFI quando conseguem falar, são inconsistentes, ou seja, em alguns momentos conseguem falar algumas palavras, mas depois não conseguem repetir;

  • Geralmente, foram bebês mais silenciosos, com balbucio reduzido;

  • Apresentam um repertório pequeno de vogais e consoantes;

  • Podem ter dificuldade de juntar sílabas simples;

  • Conseguem compreender ordens muito mais do que se expressar;

  • Alteração na prosódia (A prosódia é a pronuncia das palavras com a entonação correta);

  • Podem ter problemas de incoordenaçao na mastigação;

  • Podem babar com mais frequência;

  • Quanto maior for a palavra a ser dita mais erros aparecem, ficando em sua maioria ininteligível.


Como é o tratamento de apraxia?


Quando trabalhamos com apraxia, especialmente com crianças com síndrome de Down, descobrimos que se dividimos a palavra em partes mais fáceis, focando menos o vocabulário e mais a imitação de som ou sílaba, até construir o vocábulo, geralmente temos mais sucesso no tratamento.

Outra coisa que fazemos muito é adicionar informação tátil no trabalho com crianças com o distúrbio. Quando a pessoa ouve uma informação, mas o cérebro não diz à boca como agir, nós podemos ajudá-la a sentir o que fazer, induzindo os movimentos da boca, para que a criança possa imitá-los. Essa informação tátil mostra ao cérebro o que fazer, melhorando, assim, a imitação. Tentamos aperfeiçoar as habilidades de imitação para que no futuro a gente consiga ensinar a criança a falar sílabas e palavras.


Dicas da fono para se fazer em casa:


- Esconda-se ou esconda objetos (“cadê? achou!”) para que o bebê desenvolva este tipo de memória: “não vejo o objeto, mas sei que ele está ali”. Esta função cognitiva é importante para que, mais tarde, ele possa relacionar cada objeto ao seu nome.

– Dê nomes a pessoas e objetos e incentive o bebê a observá-los ao mesmo tempo em que você olha para eles. Essa capacidade, chamada de referente ocular, é essencial para o desenvolvimento da linguagem. É um modo natural de aumentar o vocabulário da criança, fazendo com que ela descubra o nome das pessoas e das coisas.

- Fale de frente, olhando pra ele, de preferência abaixe para conversar na mesma altura.

- Brinque bastante (pule, corra, jogue bola, etc) e sempre associe sons às brincadeiras.

– Os gestos também ajudam na construção da linguagem. Eles facilitam a compreensão da criança e aumentam a eficiência da comunicação. Com o tempo, eles serão substituídos por palavras.

– Tenha em mente que, para a criança com síndrome de Down, o que é só ouvido pode ser facilmente esquecido e o que é visto tem mais chance de ser lembrado. Por isso, quando ela tiver capacidade é interessante a utilização de fotos, desenhos ou figuras para que ela possa memorizar o que aprendeu ou vivenciou.

– Brinque de executar ordens simples: buscar o sapato da mamãe, chamar o papai na sala, colocar a mamadeira em cima da mesa, acender a luz, fechar a porta. Aos poucos, invertem-se os papeis e a criança também pode ser aquela que brinca de dar as ordens.

– Olhe livros e revistas e vá apontando e nomeando figuras para a criança. É outro modo agradável de aumentar seu vocabulário.

– Produza junto com a criança uma caixa que contenha objetos cujos nomes ela já entende bem. Eventualmente, peça que ela vá até a caixa, pegue determinado objeto e o traga. No dia seguinte, peça dois objetos e vá aumentando aos poucos.

– Outra opção é preparar uma “caixa de surpresas”. Use uma caixa de sapato fechada com abertura suficiente para que a criança coloque a mão. Ponha pequenos objetos na caixa e peça para a criança retirá-los e nomeá-los.

– Leve a criança a solucionar pequenos “problemas”: deixe objetos cobertos ou atados por um fio para que ela descubra um modo de alcançá-los. Sirva a todos na mesa e deixe que ela demonstre que você a “esqueceu”. Vista só um sapato. Entregue a mamadeira vazia. São pequenas atitudes que vão fazer com que ela desenvolva a iniciativa e resolva a questão.

- Brinque de repetir movimentos com a língua, com as bochechas; brinque de soprar; brinque de imitar movimentos, gestos e sons (a imitação ajuda muito estas crianças) e repita, repita.

Referências:

  • www.asha.org

  • www.apraxia-kids.org

  • www.lagartavirapupa.com.br

  • www.oralmotorinstitute.org

  • www.agesandstages.com

  • www.movimentodown.org.br

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