Fonoaudiologia e a Alimentação no Paciente com Autismo
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Dificuldades alimentares na infância são extremamente comuns. Estudos realizados em diferentes regiões do mundo mostram que a queixa de não comer está entre as principais situações, não apenas nos consultórios de pediatras como também na clínica de especialistas, como gastroenterologistas e fonoaudiólogos. Diferentes levantamentos científicos mostram que o problema acomete de 8% a 50% das crianças, dependendo dos critérios diagnósticos utilizados, independentemente de idade, sexo, etnia e condição econômica. Para a família, as dificuldades alimentares representam uma das preocupações mais importantes enfrentadas na infância, sendo causa frequente de conflitos nas relações entre pai, mãe e filhos.
Os fonoaudiólogos há muito tempo atuam com bebês e crianças com dificuldades alimentares, com o objetivo de “fazer a criança comer” uma quantidade específica e/ou em qualidade mais adequada em termos de textura e consistência do alimento. Para alcançar esses objetivos, o fonoaudiólogo utiliza de exercícios de motricidade orofacial que enfatizam a estimulação e os movimentos da mandíbula, língua e lábios, com o objetivo de adequar essas estruturas para que a criança possa se alimentar.
O autismo já aparece nos primeiros três anos da criança, onde ela desenvolve um
transtorno que compromete as habilidades de comunicação e interação social. Além de os pais procurarem ajuda psicológica e médica, é importante ter um cuidado especial com a alimentação. Ainda não se sabe exatamente as causas do autismo, mas estudos têm mostrado que a genética e um conjunto de agentes externos podem ocasionar o autismo.
Segundo algumas pesquisas, o número de transtornos relacionados à alimentação em crianças autistas é alto, podendo chegar a 90% dos casos. Se avaliarmos algumas características típicas do autista, conseguimos compreender como a alimentação é afetada. Vamos lá:
• Alteração Sensorial: como o paladar e o olfato podem ser muito sensíveis, isso dificulta a aceitação de alguns alimentos, restringindo bastante a variedade da alimentação.
• Rigidez e inflexibilidade: esses rituais também podem dificultar a aceitação de novos alimentos. Existem crianças com autismo que passam anos comendo um ou dois tipos de alimentos.
• Baixo tônus muscular na região do maxilar: a ausência de mastigação, perante a restrição alimentar, evidentemente dificulta o desenvolvimento dessa musculatura.
Diante desse quadro, muitos pais se perguntam como devem agir. Forçar a criança a comer? Respeitar a seletividade da criança e deixá-la comer somente o que quiser? A resposta seria: nem um extremo nem outro! Algumas condutas podem ajudar a criança a superar (ou pelo menos melhorar) a restrição alimentar sem que seja necessário o uso da força.
• Se a criança recusar algum alimento, não desista de oferecê-lo novamente. Insista de diferentes formas. Em algum momento, provavelmente a criança irá aceitar prová-lo.
• Quando a restrição alimentar é mais severa, uma sugestão é acrescentar alimentos nutritivos de forma sutil e “escondida” nas receitas (quem nunca colocou uma fruta ou legume bem disfarçado em algum molho ou vitamina?).
• Outra sugestão importante: não caia na rotina! Crianças autistas já são sistemáticas e rotineiras, se você oferecer sempre o mesmo alimento em cada refeição, isso pode fortalecer ainda mais esse padrão! Procure variar, por mais difícil que seja.
• Tenha uma exigência gradativa. Deixe a criança primeiro tocar o alimento, depois cheirar, lamber, dar uma pequena mordida, cuspir, começar tudo de novo, e assim por diante. Um passo de cada vez.
• Um clichê, mas que não deixa de ser importante: capriche na apresentação dos pratos. Seja criativo, use sua imaginação. Quanto mais atraente o prato, maior a chance de despertar interesse na criança.
• Por último, mas não menos importante: tenha sempre uma equipe médica avaliando a saúde da criança de forma que você possa amenizar as consequências possíveis de uma alimentação seletiva e restritiva.
Muita paciência e determinação são necessárias para conduzir tal situação. Uma equipe multidisciplinar pode – e deve – estar presente para ajudar a tornar o momento da refeição em algo menos desgastante e desafiador. Psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e médicos podem oferecer um suporte extremamente válido nesse processo!
Referências Bibliográficas:
Schreck KA, Williams K, Smith AF. A comparison of eating behaviors between children with and without autism. J Autism Dev Disord. 2004; 34:433–438. [PubMed]
Junqueira, Patricia; Maximino, Priscila; Cassia Ramos, Claudia; Machado, Rachel Helena Vieira; Assumpção, Izaura; Fisberg, Mauro. O PAPEL DO FONOAUDIÓLOGO NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO MULTIPROFISSIONAL DA CRIANÇA COM DIFICULDADE ALIMENTAR: UMA NOVA VISÃO. Rev. CEFAC. 2015 Maio-Jun; 17(3):1004-1011.
Autismo: conheça a importância de uma alimentação equilibrada. Website: https://www.eusemfronteiras.com.br