O tratamento odontológico no paciente com Microcefalia
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No ano de 2015 houve um pico no surto do vírus Zika que evidenciou um grande aumento do número de casos de microcefalia no Brasil, sendo cada vez mais comum a presença desses pacientes nos consultórios odontológicos.
É de extrema importância que o Cirurgião Dentista e sua equipe tenham conhecimento de todo o quadro clínico do paciente em questão, sendo necessário coletar o maior número de dados durante uma conversa inicial com os responsáveis afim de identificar todos os distúrbios que possam estar envolvidos no paciente com microcefalia e também as medicações utilizadas. Para que o tratamento possa ser individualizado e realizado com total segurança, NÃO se deve omitir nenhuma informação do profissional de saúde.
Geralmente os pacientes com alterações neurológicas apresentam altos índices de cárie, graves problemas periodontais (de gengiva e osso), hiperplasia (aumento) gengival, maloclusão, traumatismos, bruxismo e perda precoce dos dentes. Dentre alguns fatores causadores desses problemas podemos citar: coordenação motora alterada, dieta de consistência amolecida, hipotonia dos músculos da mastigação e deglutição, uso de medicações que podem levar à diminuição do fluxo salivar e/ou causar a hiperplasia gengival.
O auxílio para os autocuidados oferecido pela família é muito importante, pois em muitos casos o paciente não é capaz de realizá-los por conta, tendo o cuidador grande parcela de responsabilidade na higiene bucal do paciente e, consequentemente, no sucesso do tratamento. O dentista pode orientar/treinar os responsáveis no uso de suportes para fio dental, escovas comuns/elétricas, escovas interdentais, gazes umedecidas em substâncias apropriadas para limpeza bucal e instruções sobre dieta e uso de flúor.
A família deve ser conscientizada sobre a importância do tratamento preventivo e da adesão às ações propostas. Buscar um vínculo entre profissional-paciente-família pode determinar maiores chances de sucesso no tratamento.
Em relação às medicações utilizadas desde para o controle de dores e infecções até o uso dos anestésicos locais e medicações para sedação, é importante estar atento aos remédios de rotina do paciente, pois em muitos casos é necessário solicitar interação medicamentosa junto ao médico ou ajustar as doses para possibilitar a execução do tratamento odontológico.
O dentista deve conduzir a apresentação do consultório e seus itens de acordo com a capacidade cognitiva do paciente, de forma a tentar ambientá-lo à rotina odontológica, porém nem sempre é possível contar com sua colaboração para o tratamento e em alguns casos se utiliza a estabilização na cadeira odontológica, sendo necessário considerar o uso de sedação para promover maior relaxamento ou até mesmo o atendimento em ambiente hospitalar.
O tratamento do paciente com microcefalia pode ser executado com excelência e de forma bastante segura, sendo importante a troca de informações entre a equipe multiprofissional. O abandono da visão mecanicista dos processos e a adoção de uma abordagem mais humanizada para com o paciente e sua família é essencial para a obtenção de maior adesão aos tratamentos propostos e, consequentemente, para o aumento da qualidade de vida dos envolvidos.